Biografia: João Figueiras Lima, o arquiteto Lelé
Conheça o arquiteto brasileiro Lelé, um modelo de coragem, o arquiteto da saúde e da felicidade.
Houve um tempo, a partir de meados da década de 1950, em que a arquitetura brasileira alcançou renome internacional. Essa difusão teve mentores célebres, entre os quais Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, os irmãos Roberto e Rino Levi, Oswaldo Bratke e Burle Marx estavam entre os mais renomados. Entre os notáveis arquitetos brasileiros, um personagem chamou atenção devido às suas obras de qualidade notável e apelo visual marcante: o chamado João Filgueiras Lima, conhecido por todos como Lelé.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1932, Lelé era um escriturário e um bom jogador de futebol, herdando o nome de um meio-campista do Vasco da Gama. "Nunca pensei em ser arquiteto, foi um giro do destino". Iniciou sua carreira profissional como arquiteto na década de 1950 e destacou-se por seu comprometimento com a inovação e a busca por soluções arquitetônicas que integrassem tecnologia, funcionalidade e sustentabilidade.
Conhecido como o "arquiteto da saúde e da felicidade", Lelé não alcançou a projeção de Niemeyer, nem conquistou o respeito intelectual de Costa; não teve discípulos como Artigas, e não foi reconhecido internacionalmente como Mendes da Rocha ou Bo Bardi. No entanto, Lelé não foi menos admirado do que seus colegas brasileiros, que o viam como um modelo moral de coragem ao enfrentar os problemas sociais do país, utilizando a pesquisa formal e a industrialização como ferramentas.
Em grande parte, esse destino foi moldado durante seu tempo como arquiteto nos edifícios de Niemeyer em Brasília, e especialmente em seus projetos de transformação das favelas, nos quais desenvolveu estruturas leves e econômicas de concreto armado, que se adaptam facilmente às formas inventadas pelo arquiteto.
Como "o arquiteto onde a arte e tecnologia se encontram e se entrosam, o construtor" segundo Lúcio Costa, para Lelé o arquiteto deve conhecer profundamente materiais, estruturas e técnicas construtivas, porque “ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz”.
Em suas obras mais significativas, como os hospitais da Rede Sarah, a ênfase na industrialização se combinou com uma estética original e poderosa, juntamente com o uso de sistemas bioclimáticos passivos. Lelé eliminou o uso do ar condicionado nos hospitais, substituindo-o por um sistema de ventilação especialmente projetado. Envolvendo questões de saúde e economia, combinou virtudes como a originalidade e riqueza dos espaços, a viabilidade construtiva e a economia de sua realização.
Para muitos, é curioso o desconhecimento público de seu trabalho, mesmo no Brasil, o que alguns atribuem à sua natureza tímida e reservada. Mas outra razão pode ser encontrada no fato de que Lelé, nascido no Rio de Janeiro, concentrou seu trabalho ao longo de muitos anos na região de Salvador, na Bahia. Porque o objetivo de Lelé não se concentra em paisagens utópicas. Ele aspira, apenas, a demonstrar que é possível - em um país de recursos limitados - criar uma arquitetura decente, bonita e econômica.
Lelé encerrou sua prolífica carreira e vida em 2014, aos 82 anos, deixando um respeitado legado através de seu compromisso com a eficiência construtiva e o bem-estar das comunidades. Uma vida dedicada a transformar a arquitetura em uma força positiva para o desenvolvimento social no Brasil.
Reflita com Lelé
"Arquitetura é fazer o melhor possível com o mínimo possível."
"Acredito que arquitetura tem que ser entendida como uma contribuição para a transformação social."
"O arquiteto deve ser, antes de tudo, um construtor. Deve conhecer profundamente materiais, estruturas e técnicas construtivas. Ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz”
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