Arquitetura Vernacular
Conheça as histórias por trás das construções vernaculares e descubra como essa arquitetura reflete a alma das comunidades.
Muitas vezes colocada em segundo plano, por ser considerada um tipo de construção menos sofisticada, a arquitetura vernacular fornece informações valiosas sobre os materiais, estilos, influências e características das regiões onde estão localizadas. Confira suas principais características a seguir.
O que é arquitetura vernacular?
O termo "vernáculo" significa algo "doméstico, nativo, indígena", referindo-se a algo que tem origem em uma cultura específica ou que possui características próprias dessa cultura. Quando falamos de arquitetura vernacular, nos referimos a tipos de construção que surgem da necessidade humana de se adaptar a um ambiente específico, caracterizadas pelo uso de materiais locais e métodos de construção autônomos.
A arquitetura vernacular tem muito a ver com sustentabilidade. Suas técnicas de construção visam aproveitar ao máximo os recursos naturais disponíveis, como a ventilação cruzada para resfriamento natural, a orientação das estruturas para otimizar a luz solar e a escolha de materiais que se adequam ao clima local. Isso resulta em edifícios energeticamente eficientes que consomem menos energia ao longo do tempo.
Falando em tempo, a durabilidade é outra característica da arquitetura vernacular. As construções tradicionais são frequentemente adaptadas para resistir às condições climáticas locais e às ameaças naturais, o que significa que têm uma vida útil mais longa e requerem menos manutenção e substituição de materiais.
Muitas das edificações vernáculas são residências e estruturas comuns, como escolas ou outros espaços destinados ao uso da população local. Para distinguir uma obra vernácula de outra que não é, é necessário verificar os seguintes aspectos:
- A construção deve ter sido realizada utilizando técnicas tradicionais da região.
- Construtores locais devem ter participado da construção.
- Os materiais utilizados devem ser locais, de modo que, se a construção for abandonada, não represente uma fonte de poluição ambiental.
Arquitetura vernacular no mundo
Casas Colmeia em Harran, Turquia: Essas casas predominantemente utilizam adobe, uma mistura de argila, areia e palha, que ajuda a manter o interior fresco, não contando geralmente com janelas. Durante o inverno, o adobe retém o calor, economizando energia. Elas têm uma altura de cerca de 4 a 5 metros.
Hanok, Coreia: Conhecidas como "casas que respiram" devido ao solo de argila vermelha em que são construídas. Diferentemente das casas tradicionais da Malásia, essas casas têm alicerces de pedra ao nível do solo, com estruturas de madeira e paredes de argila vermelha para regular a umidade. Os telhados dos hanok variam de acordo com a região, mas na ilha de Jeju, onde os mais antigos estão localizados, são feitos de palha com formato arredondado.
Tolek, Comunidade Musgum: Feitas de argila e em formato de cúpula, são dispostas em forma de círculo e não têm fundações, mas ganham estabilidade à medida que as paredes ficam mais finas em direção ao topo. O chão é de argila e leva aproximadamente seis meses para ser construído. São encontradas no norte dos Camarões e no Chade.
Casas da Tribo Himba, Namíbia: Casas forma circular e telhados cônicos feitos de palha, com paredes de adobe e usam madeira em sua construção. Elas não formam um vilarejo, mas são agrupadas por famílias.
Palafitas: Palafitas são construções encontradas em muitas regiões do mundo, como na América do Sul (Venezuela, Colômbia, Argentina, Chile, Peru), no Caribe (Costa Rica, Honduras e Panamá) e na Ásia (Birmânia). Elas são construídas sobre lagos, lagoas e canais, apoiadas em estacas de madeira para evitar danos causados por inundações. A madeira e a palha são materiais comuns na construção dessas casas.
Yurtas, Ásia Central: Projetadas para suportar baixas temperaturas e ventos fortes. Elas são feitas de treliças de madeira, cobertas por camadas de lã e palha, com uma abertura central para ventilação, entrada de luz e suporte. As yurtas podem ser facilmente desmontadas e transportadas para outras localizações.
Iglus, Ártico e Alasca: Construções feitas de blocos de gelo, com três tamanhos diferentes, dependendo da finalidade: pequenos (curta duração), médios (para uma família) e grandes (permanentes, com capacidade para até 20 pessoas). Eles têm uma forma de cúpula e são construídos em espiral, com uma entrada voltada para o lado contrário ao vento e uma abertura no topo para ventilação.
Izbás, Rússia: Casas feitas principalmente de troncos de madeira para isolamento térmico. Elas são construídas sem o uso de pregos, apenas com um machado, devido ao alto custo do metal. O tamanho varia de acordo com a região, mas todas têm uma estufa, cozinha e quartos.
Arquitetura vernacular no Brasil
A arquitetura vernacular no Brasil é um reflexo da diversidade cultural e geográfica do país. Ela incorpora elementos e técnicas locais em suas construções, adaptando-se às diferentes regiões e climas. Desde as casas de pau a pique do interior nordestino até as casas de madeira na região sul, a arquitetura vernacular brasileira é rica em variedade e história.
Ocas: Habitações construídas pelas diferentes tribos indígenas do país, notáveis pela simplicidade e eficiência. Feitas de palha, madeira e barro, as ocas são adaptadas ao clima e às necessidades das comunidades indígenas. Sua forma arredondada e estrutura flexível permitem uma boa ventilação e resistência a condições climáticas extremas, harmonizada com o ambiente e as culturas locais.
Pau a pique: Nesse método, as paredes são construídas com uma estrutura de madeira vertical (os "paus") e preenchidas com barro ou argila, criando uma mistura resistente e durável. O pau a pique é especialmente comum em áreas rurais e no Nordeste do Brasil, onde os materiais locais são abundantemente utilizados. Essa técnica não apenas reflete a simplicidade e eficiência da arquitetura vernacular, mas também destaca a importância da adaptação às condições climáticas e recursos disponíveis em diferentes regiões do país.
Casa de terra batida: Assim como a técnica do pau a pique, foram adotadas durante a era colonial devido à sua durabilidade e à facilidade de construção, em comparação com métodos que envolviam alvenaria e pedra. Na construção com terra batida, uma estrutura de madeira é inicialmente montada e, posteriormente, removida, deixando uma mistura compactada de argila, cal e cascalho que constitui as paredes da casa. Essas casas são emblemáticas de regiões rurais, especialmente no interior do país.
A arquitetura vernacular é um tesouro cultural que reflete a sabedoria das comunidades em adaptar suas construções às condições locais e recursos disponíveis. Essa arquitetura não apenas preserva tradições e identidades culturais, mas também destaca a importância da sustentabilidade, eficiência e respeito pelo ambiente.
Que ela inspire arquitetos e designers contemporâneos na busca por soluções que harmonizem com o contexto e promovam um futuro mais consciente e equilibrado.
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